Este blog, criado em janeiro de 2007, é dedicado à minha filha Flavia e sua luta pela vida. Flavia vive em coma vigil desde que, em 06 de janeiro de 1998, aos 10 anos de idade, teve seus cabelos sugados pelo sistema de sucção da piscina do prédio onde morávamos em Moema - São Paulo. O objetivo deste blog é alertar para o perigo existente nos ralos de piscinas e ser um meio de luta constante e incansável por uma Lei Federal a fim de tornar mais seguras as piscinas do Brasil.

Revista da Folha: "Esperança no ralo"

- 24 de maio de 2009
...”Dispositivo de R$ 200 pode evitar tragédia.”

A Revista da Folha, do jornal A Folha de São Paulo deste domingo, traz uma matéria sobre acidentes com ralos de piscinas e mostra o caso de Flavia, além de outros acidentes ocorridos aqui no Brasil pelo mesmo motivo: A forte sucção do ralo da piscina.
Atendendo à solicitações, transcrevo aqui na íntegra o texto da Revista da Folha.

Odele cuida de Flávia, em coma vegetativo, no quarto adaptado
Reportagem de Cláudia Garcia, foto de Leonardo Wen

"Três meses depois de Flávia Souza completar 21 anos, sendo os últimos 11 imóvel em uma cama, a família da jovem venceu uma primeira batalha: contra a impunidade. Em março, o Superior Tribunal de Justiça responsabilizou o condomínio Jardim da Juriti, em Moema, pelo acidente no qual a então adolescente (*) teve os cabelos sugados pelo ralo da piscina, enquanto brincava com o irmão.(*) Aqui há um equivoco na matéria. Flavia não era adolescente à época do acidente, era uma criança de 10 anos.
A AGF Brasil Seguros também foi condenada, em última instância, pelo atraso de um ano e 11 meses no pagamento da indenização. “Por causa do recebimento atrasado do seguro, eu tive de fazer bingos e rifas para pagar as contas da minha filha”, relata Odele Souza, mãe de Flávia. A jovem completou a maioridade sem dar sinais animadores de que vai sair do estado vegetativo.
Flávia vive em um quarto adaptado à sua condição, com uma estrutura própria de enfermagem e fisioterapia, sob o olhar atento da mãe. “É dessa forma que as deformidades causadas pelo longo tempo de imobilidade vão sendo contidas”, explica a mãe. A fisioterapia evita maiores perdas de massa muscular e atrofiamento de membros. “Ela consegue escutar e reage à dor, ao barulho e ao toque.”

Odele relata as angústias cotidianas do drama de mais de uma década no blog (http://flaviavivendoemcoma.blogspot.com/). Como rotina, Flávia tem o nariz aspirado entre oito e dez vezes ao dia para se livrar das secreções que se formam nos pulmões, causadas pelo longo tempo acamada. Outra sequela é a dificuldade na deglutição. Flávia é alimentada por uma sonda que conduz o alimento diretamente ao estômago. Ela recebe cuidados de higiene corporal e oral especiais.
Precauções. Esse tipo de tragédia pode ser evitada. Existem no mercado equipamentos capazes de impedir o entrelaçamento dos cabelos no ralo das piscinas. No caso do acidente com Flávia, a potência do motor era inadequada ao tamanho da piscina. A perícia apontou que a bomba tinha uma velocidade 78% superior à recomendada.

O acidente começou a se desenhar no condomínio onde a família morava na época, quando o síndico -após uma reunião com moradores que se queixaram da temperatura da água- pediu ao zelador para trocar o equipamento da piscina.
Para Odele, “o síndico foi negligente”, pois era uma “tarefa para um técnico ou um engenheiro”. O valor que o condomínio terá de pagar à família da vítima ainda não foi estimado.
Procurados pela Revista, representantes do condomínio não quiseram se manifestar. A AGF Brasil Seguros, condenada por danos morais causados à família de Flávia, informou que está “analisando o caso para tomar as devidas providências”.

A condenação é um alerta para moradores e condomínios. “A conscientização dos pais, dos zeladores e dos próprios porteiros sobre os perigos nas piscinas é uma das precauções tomadas por nós”, afirma Márcio Rachkorsky, presidente da Associação dos Síndicos de São Paulo.
Na hora de fiscalizar, é importante saber que piscinas devem ser construídas seguindo padrões da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Valter Saes, presidente da Saes, empresa prestadora de serviços técnicos, diz, no entanto, que o morador não tem como saber se a piscina do seu condomínio atende ou não à legislação. Por isso, a manutenção deve ser realizada regularmente por técnicos especializados. O que acontece, muitas vezes, segundo Valter, é o síndico encarregar o zelador do trabalho. “Os moradores devem exigir o laudo anual da fiscalização.”

O caso de Flávia não é isolado. Em dezembro passado, Gabriel Martins, 9, morreu em Franca (401 km de São Paulo). Estava na piscina de um clube quando foi sugado pelo braço, pois o ralo de proteção estava sem tampa.

Em janeiro, Jaqueline dos Santos, 14, morreu afogada na piscina de um condomínio de luxo em Barra do Jacuípe, perto de Salvador. Seus cabelos ficaram presos na grade protetora do ralo. Chegou a ser socorrida, mas morreu no hospital. Em coma, Flávia luta cotidianamente contra os males causados pela negligência.

Piscina segura
O tipo de acidente do qual Flavia Souza Belo foi vítima pode acontecer de duas maneiras: se o dreno protetor da piscina estiver sem tampa ou se a bomba que regula o motor for superdimensionada.
A empresa Sodramar, fabricante de material hidráulico, lançou, no ano passado, uma tampa “anti-hair” (R$ 200). Segundo o presidente da companhia, Augusto Araújo, foram vendidas mais de mil unidades no Brasil.
“Esse material é obrigatório por lei lá fora, mas, aqui, só agora é que algumas pessoas perceberam a necessidade, e a procura vem aumentando gradualmente.”
Devido ao aumento no número de acidentes por sucção, os EUA aprovaram, em dezembro de 2008, uma legislação que obriga que as piscinas públicas e particulares sejam construídas com válvulas antivácuo nos ralos.
O dispositivo libera a pressão da bomba do motor em caso de sucção, enquanto o dreno “anti-hair” funciona como uma capa de proteção do ralo, evitando que os cabelos sejam sugados."

Fonte: Revista da Folha
R$ 200,00 (Duzentos reais). É o que custa para deixar a piscina mais segura. Muito pouco, convenhamos, para que tragédias como a que aconteceu com minha filha Flavia, continuem a acontecer. Venho repetindo isto aqui no blog de Flavia: É fundamental que síndicos e moradores de condomínios, assim como administradores de qualquer local onde existam piscinas de uso público ou coletivo, providenciem fiscalização e laudo periódicos sobre o estado de segurança de suas piscinas. Como dito no texto acima, essa fiscalização e laudo, obviamente, devem ser feitos por pessoal técnico especializado.
Até o próximo post.

Segurança nas piscinas: A necessidade de uma lei federal

- 20 de maio de 2009
Aqui no Brasil, tenho visto, esporadicamente, algumas notícias de projetos de leis sobre segurança nas piscinas. No entanto, os poucos projetos de leis que existem por aqui, são direcionados para os estados, o que não resolve absolutamente a questão geral da falta de segurança nas piscinas, pois esta é de fato, uma questão de saúde pública nacional, portanto, faz-se necessário e urgente, uma lei federal que regulamente a venda, a instalação, a manutenção e o uso de piscinas de uso público, coletivo e mesmo aquelas instaladas em residências particulares. E isto não é excessivo, pelo contrário, é o mínimo que deve ser feito – e com urgência - para evitar novos acidentes e mortes causados pela sucção dos ralos de piscinas.

Nos Estados Unidos, esta lei existe. Foi criada após o acidente causado por sucção de um ralo de piscina que levou à morte em junho de 2002, a criança Virginia Graeme Baker, neta do ex-secretário de estado americano James Baker. A lei americana foi criada em 2007. Lá, o assunto da segurança nas piscinas é levado muito a sério, enquanto que aqui no Brasil, apesar de todos os acidentes graves e as mortes, notadamente ocorridas com crianças, os poucos projetos de lei existentes, até agora não vingaram.

A ausência de uma lei voltada para a segurança nas piscinas do Brasil é por demais grave e teria necessidade de um olhar atencioso por parte das autoridades deste país. E enquanto essa atitude não é tomada, a mídia, principalmente a TV que tem grande poder de penetração nos lares brasileiros, poderia fazer campanhas alertando as pessoas para este perigo real e concreto: A sucção causada pelos ralos de piscinas.

Você poder ler (em inglês) sobre como ocorreu o acidente com a criança americana, acessando este link: Virginia Graeme Baker’s Story
Veja também este vídeo: Is your local pool safe?

Até o próximo post.

Blogagem coletiva: Em defesa da infância

- 18 de maio de 2009
18 de maio – Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes.
O Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes foi criado pela lei nº 9.970, de 17 de maio de 2000, em razão de um crime ocorrido na cidade de Vitória/ES, em 1973. Neste ano, uma menina de oito anos foi espancada, violentada e assassinada. Os culpados pelo crime não foram punidos.

A violência sexual contra crianças e adolescentes é um fenômeno que ocorre em todas as classes sociais e em escala mundial. Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância apontam que cerca de um milhão de crianças são vítimas de violência sexual no mundo a cada ano. Um exemplo ocorrido no Maranhão é o caso dos meninos emasculados, em que 42 crianças foram violentadas e depois mortas. O fato mobilizou a comunidade internacional.


Disque Denúncia 100. Para incentivar as denúncias dos casos de violência sexual, foi criado o Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes. Discando o número 100, de abrangência nacional e gratuito, podem ser feitas denúncias de violência sexual praticadas contra crianças e adolescentes, que são encaminhas às autoridades competentes, preservando o anonimato do autor da ligação.
Leia mais:
Este post do blog Hippos

Dia das mães: Onde está minha filha?!

- 10 de maio de 2009
Querida filha,

Vejo você em sua cama hospitalar, mas não sei onde você está, por isso, como há um ano, estou te escrevendo uma carta neste Dia das Mães em que eu adoraria receber o teu abraço, o teu sorriso, o teu carinho, mas tenho que me contentar com tua presença imóvel e silenciosa. É como se você não estivesse aqui. E lamento muito filha, por nesses anos todos eu não ter conseguido entender o mistério do estado de coma, lamento por não entender o que ocorreu em seu cérebro, para saber exatamente onde você se escondeu, um lugar onde nunca consegui chegar pra te falar e fazer entender que esteja onde estiver, você não está só e que estou sempre por perto a lhe proteger. E filha, você gostaria muito de conhecer nossos novos amigos. Pessoas queridas de todos os lugares do Brasil e de vários países que também gostam de você e se preocupam com o que seu bem estar e com os seus direitos. Não estamos sós filha. Não estamos sós.

Mas hoje estou um pouco triste Flavia, porque queria muito ter você aqui por completo, como antes: Alegre e saudável. Há dias assim filha, em que a tristeza nos pega de jeito, porque ninguém é forte o tempo todo. Há dias em que tudo o que precisamos é um pouco de colo de mãe, e hoje mais do nunca, eu precisaria do colo de minha mãe, mas eu já te contei que sua vovó Julia partiu há quase oito anos, sempre acreditando que você recobraria a consciência. Incansavelmente, sua avó repetia que por um tempo, você estava no céu brincando com os anjos mas que a qualquer momento você voltaria, que a qualquer momento você acordaria.

Que pena filha, a vovó Julia se enganou, você não voltou e desse longo sono, você não acordou. Mas filha, mesmo que o sonho de sua avó não tenha se realizado, sua mãe ainda está ao seu lado Flavia e vou continuar fazendo de tudo e mais um pouco para que você, enquanto estiver aqui, tenha a melhor qualidade de vida possível, porque isto não é favor filha, é um direito seu. Vou continuar a cuidar de você com o mesmo carinho de sempre, vou continuar a lhe defender, a lutar por você. Vou continuar exigindo que seus direitos sejam respeitados, não apenas em parte como aconteceu depois de muitos anos de luta judicial, mas que seus direitos sejam totalmente respeitados. É o mínimo que lhe deve quem por negligência e descuido, foi co-responsável nesse acidente que destruiu seu futuro e lhe deixou nesse inatingível e misterioso estado de coma. Por isso vou continuar Flavia, vou continuar, vou continuar....

Fique em paz filha.

Por dias melhores para todos nós

- 5 de maio de 2009
O comentário que se lê depois desta introdução, foi deixado no blog de Flavia por Raul, autor do blog SIDADANIA de Portugal. Raul está há 12 anos, infectado pelo o vírus da AIDS. Em Portugal usa-se mais o termo SIDA, daí o nome do blog, SIDADANIA.

No Sidadania, Raul presta um valioso serviço de utilidade pública com informações sobre a SIDA/AIDS, baseado em sua própria experiência de convivência diária com a doença, e pelos conhecimentos adquiridos em estudos, palestras e conferências, das quais participa por todo o mundo. O blog Sidadania é referência em informações sobre a SIDA/AIDS.

E o que isto tem a ver com a causa de Flavia? Tem a ver sim. Raul, através de seu blog SIDADANIA, é um dos muitos amigos que tem colaborado com a minha luta na divulgação dos acidentes causados por ralos de piscinas. E Raul é dessas pessoas que não se curva ao sofrimento, e ao invés, faz da dor uma bandeira de luta por dias melhores para todos nós, seja divulgando informações sobre a SIDA/ AIDS, seja apoiando e mostrando solidariedade com quem como ele, não se conforma com o desrespeito aos nossos direitos.

R. Rudoisxis deixou um novo comentário sobre a sua postagem "RALOS DE PISCINAS CONTINUAM MATANDO. E CADÊ A JUST...": Odele, fico arrepiado quando vejo videos como este. É terrivel o que continua a acontecer todos os dias e em todo o mundo, e não se compreende porque é que isso acontece pois há soluções tecnológicas que permitem manter uma água limpa nas piscinas e parques aquáticos sem recurso a bombas de sucção potentissimas.Sinto medo de ir a piscinas, levar meus netos e ver tantas crianças pulando felizes alheias aos perigos escondidos que de um momento para o outro lhes podem "sugar" as vidas ou deixá-los incapacitados por toda a sua existência. Será que os responsáveis pelas normas de segurança em lugares públicos de lazer como piscinas e parques aquáticos não têm filhos e outras crianças a quem amem e não vejam esses perigos? Dói ver o presente estado de coisas e a impassividade dos homens face a tantas mortes e incapacidades permanentes, as quais são impossiveis esconder.

O vídeo a que o Raul se refere, pode ser visto ou revisto no link RALOS DE PISCINAS CONTINUAM MATANDO...
Raul, muito obrigada pelo comentário e por seu apoio à causa de Flavia.

E mais uma dica de segurança nas piscinas, fornecida por Augusto César Araújo, Vice-Presidente da ANAPP.
- Piscinas com apenas um dreno (de fundo) devem ser submetidas a uma rigorosa análise técnica, para se avaliar a segurança que oferecem..

A todos, muito obrigada pela atenção e comentários e até o próximo post.
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