Este blog, criado em janeiro de 2007, é dedicado à minha filha Flavia e sua luta pela vida. Flavia vive em coma vigil desde que, em 06 de janeiro de 1998, aos 10 anos de idade, teve seus cabelos sugados pelo sistema de sucção da piscina do prédio onde morávamos em Moema - São Paulo. O objetivo deste blog é alertar para o perigo existente nos ralos de piscinas e ser um meio de luta constante e incansável por uma Lei Federal a fim de tornar mais seguras as piscinas do Brasil.

COISAS SIMPLES, SINÔNIMO DE FELICIDADE

- 30 de janeiro de 2008
Eu e Flavia 13 anos atrás.

De vez em quando gosto de reproduzir alguns comentários deixados aqui, porque entendo que contêm mensagens preciosas, ou opiniões que nos levam à reflexão. O mesmo acontece com alguns e-mails que recebo. Quando se trata de comentários, e já que este blog é público, não vejo necessidade de pedir autorização para reproduzi-los ou mencioná-los em um post, porém quando se trata de um e-mail, sempre peço autorização para publicar. É o caso do e-mail abaixo, que devidamente autorizada, transcrevo aqui na sua íntegra, logo após meu texto de introdução.

Existem, e todos sabemos disto, vários motivos pelos quais uma pessoa pode se sentir triste ou infeliz. Quando uma tragédia ocorre em nossas vidas, é natural que fiquemos desestruturados emocionalmente por um bom tempo. E há quem jamais consiga sair do luto. Dá para imaginar a dor de Dona Irani, a mãe do menino Joniel cujo acidente fatal causado por um ralo de piscina, documentei no post anterior. Fico pensando como estará a mãe de Abigail Taylor, a menina americana de 6 anos, que teve parte de seus intestinos sugados por um ralo de piscina, em Junho de 2007 e também documentado Aqui. Este tipo de acidente também aconteceu em Portugal. Como estarão essas famílias administrando a dor pela perda de seus filhos? Claro que existem outros tipos de acidentes, outras tragédias, mas como todos sabem, devido ao acidente que deixou Flavia em coma, meu foco é este: Acidentes causados por ralos de piscinas.

Por esses exemplos vemos que existem algumas tristezas inevitáveis, aquelas das quais não se pode fugir, pois sempre vão existir. Como não sentir tristeza diante da foto do filho (a) antes saudável e agora morto ou em coma irreversível? Como arrancar do peito e expulsar da vida essa dor?! Não dá, essa dor não se vai, e daqui de dentro não sai, não sai, não sai...

Mas como já disse em posts anteriores, é preciso trabalhar, administrar a dor. Este é um desafio que temos que vencer, para que ela, a dor, não saia vencedora. Já aqueles, que felizmente não têm a necessidade de encarar tal desafio, vale lembrar outra necessidade: Agradecer à vida, por coisas aparentemente tão simples que não nos damos conta de quão maravilhosas são: É bom demais poder andar, falar, dançar, amar. É uma benção ver os filhos saudáveis e aptos para seguir o curso natural da vida: Crescer, estudar, se profissionalizar, amadurecer, casar, nos dar netos. Isto não é pouco, pelo contrário, é bastante, é muito, e deveria ser sinônimo de felicidade.

E aqui o e-mail do qual falei no inicio deste post.
"Olá, D. Odele!!
Me chamou muito atenção o seu site, estava num desses sites de futilidades, assuntos que não nos acrescentam em nada nesta vida... Sei lá... Estava no meu “momento fútil” necessário para desestressar um pouquinho no dia a dia e vi a janela para o seu blog, onde tem a foto da sua filha... Mas, quem sou eu para falar em desestressar quando existem problemas muito maiores
Você é uma guerreira e acabou de conquistar uma fã!! Quem dera que todos os pais apenas desejassem que seus filhos fossem felizes e apenas VIVESSEM, assim como você, que vive pelo dia em que ela simplesmente acorde, né? Fui estudar um pouco sobre o coma, e fiquei sabendo de outros casos, de outras familias...

Todos os dias temos exemplos de pessoas que nos fazem enxergar como podemos fazer mais, sorrir mais, não se importar tanto com problemas que na maioria das vezes são somente pequenos percalços. Você com certeza é uma delas, fiquei muito feliz em ver que você não deixou sua vida de lado, sai para o cinema ou para o teatro e até com seu filho! Uma pessoa que acredita, que vive, que não se deixa abater... Parabéns!

A grande pena disso tudo realmente é o descaso das empresas e do nosso Poder Judiciário... Sou advogada e realmente fico muito triste quando deparo com situações como essa... 10 anos e nada?? Como assim?? Porque é tão dificil um processo dessa magnitude ser resolvido??
Não entendi bem ao certo o que aconteceu com a sua filha, mas pelo que pude perceber existe a necessidade de alertar a todos! E também das empresas serem responsabilizadas para que não ocorra outros acidentes semelhantes ao que ocorreu com a sua filha...

Espero em Deus que você continue sempre esta pessoa confiante e que tenha sempre a força necessária para continuar sua batalha diária como mãe e como cidadã que espera justiça!
Um beijo grande, com muito carinho,
Cibele "

Cibele, obrigada por me autorizar a publicar seu e-mail aqui no blog de Flavia.

Obrigada a todos pela visita e comentários e até o próximo post.

MAIS UMA CRIANÇA VÍTIMA DE UM RALO DE PISCINA

- 25 de janeiro de 2008
Fiel ao compromisso que assumi comigo mesma de continuar documentando acidentes causados por ralos de piscinas, trago hoje um caso recente, com um garoto de 5 anos que faleceu.

Vitima: Joniel Aragão da Silva, 5 anos.
Onde: Water Park do Nordeste – Cidade Conde – Litoral Sul da Paraíba.
Quando: 30.09.2007
Esta notícia pode ser conferido neste link:

Mãe de menino morto vai processar Water ParkIrani Aragão, mãe de Joniel Aragão da Silva, de cinco anos, que morreu afogado numa das piscinas do Water Park do Nordeste, no município do Conde, disse nesta quarta-feira (3), ao Portal Correio, que vai processar o parque para que outras crianças não morram no local. Ela afirma que é o terceiro caso de morte por afogamento ocorrido no parque, mas não sabe detalhes sobre as demais vítimas, todas de João Pessoa.

"Isso não vai trazer o meu filho de volta, mas vai evitar que outras mães passem o que eu estou passando", frisou Irani, garantindo que no parque não há segurança e poder provar através do testemunho de outros freqüentadores. "Eles sabem que não tem segurança e sim uma pessoa verificando quem passou pelo exame médico. Cadê o salva-vidas que não viu o meu filho?", questionou.

A mãe de Joniel disse que a perícia encontrou vestígios da criança no sugador da piscina e por isso ela desistiu de pedir a exumação do corpo do filho, uma vez que já está descartada a hipótese do menino ter sido levado e afogado posteriormente na piscina.
Joniel passava o dia do domingo (30) no parque com a mãe quando desapareceu. Apesar das buscas, o corpo dele só foi na manhã do dia seguinte em duas das piscinas.

Fim de caso - O delegado do Conde, Francisco Marinho, disse ao Portal Correio que o caso da morte de Joniel está concluído. "Não há mais dúvidas de que a criança ficou presa no sugador da piscina", afirmou o delegado, acrescentando ter pedindo uma perícia complementar no local que encontrou pele e cabelo do menino na grade do aparelho, localizado embaixo do tobogã.

"A tia do menino tinha visto ele passar por baixo do tobogã mas não sabia que lá ficava o sugador. O local é perigoso e qualquer criança que passasse teria ficado presa porque a boca do sugador é muito grande e tem muita força de sucção", concluiu o delegado.
Kelyanne Carvalho

Obs: É meu o negrito do texto.

Está certa Dona Irani Aragão em processar o Water Park, pela morte de seu filho. Embora isto não o traga de volta, a punição dos culpados inibe futuras negligências além de ser um exercício de cidadania de Dona Irani. Mas além da tragédia que atingiu mais esta criança, há que se lamentar ainda, a lentidão com que a justiça certamente tratará o caso. Um exemplo dessa lentidão é o processo de Flavia, que ainda aguarda pela condenação dos culpados, há NOVE ANOS. Uma justiça lenta é uma justiça injusta.

O comentário abaixo foi deixado neste blog, post do dia 06.01.2008.
Fabiana,foi muito importante o seu depoimento. Muito obrigada.
"Fabys disse...
Olá, Odele!Descobri o caso da sua filha hoje através do blog "De Cara pra Lua". Estou muito chocada, pois os meus cabelos também foram sugados pelo ralo de uma JACUZZI (banheira no meu caso) no mesmo ano, 1998. Na época, estava em meu último ano de faculdade. Por sorte tinha amigas por perto que me socorreram na hora e por isso não tive sequelas graves além de ter que cortar o cabelo compridão bem curtinho e um pouco sangramento no couro cabeludo.Eu sinto muito mesmo pela sua filha e fico muito comovida com seu carinho e dedicação.Torço pra que a justiça seja feita.
Abraços Fabiana
Terça-feira, 08 Janeiro, 2008"

Conforme já mencionei aqui, minha intenção ao mostrar esses acidentes, não é absolutamente alarmar as pessoas, tampouco deixá-las em pânico, mas sim ALERTAR para um perigo real. Em algum comentário lá atrás neste blog, alguém disse: “ Não acredito que esses acidentes sejam assim tão comuns quanto você diz.” Pois eu lhes digo: É mais prudente acreditar. Acidentes com ralos de piscinas são mais comuns do que vocês imaginam. E não acontece só com crianças, embora elas sejam as maiores vítimas. O que aqui venho documentando são alguns desses acidentes, existem outros, muitos outros. Melhor ficar atentos. Por favor, fiquem atentos.

Até o próximo post.

MINHA ENTREVISTA NO BLOG DESAFABO DE MÃE.

- 20 de janeiro de 2008
O blog Desabafo de Mãe (*) publicou no dia 12 de Janeiro recente, uma entrevista comigo, feita por e-mail. Para quem não teve oportunidade de ler, transcrevo aqui essa entrevista quase na íntegra, por que acho que minhas respostas poderão esclarecer dúvidas de muitas pessoas com relação ao perigo dos ralos de piscinas.”

Entrevista - Um blog que denuncia em busca de Justiça
É com muita honra que publico nossa primeira entrevista por aqui. E quem é responsável por essa seção é nosso repórter paranaense de Guarapuava, Samilo Takara, que não é pai, mas adora conhecer gente e tem prazer enorme em falar sobre a sociedade. Nossa primeira entrevistada é a Odele Souza, do blog Flávia vivendo em coma , que resolveu explorar a internet para alertar aos pais sobre os perigos dos ralos da piscina, que foram responsáveis pelo estado de coma da sua filha Flávia.

Ela conta que leu uma reportagem sobre o poder de comunicação dos blogs e acreditou que o meio poderia ajudá-la a divulgar o caso pela imprensa. Isso até aconteceu, mas não houve interesse necessário para dar continuidade ao tema conforme acredita Odele. Talvez, porque a imprensa ainda não percebeu que há muitas mães na internet denunciando as injustiças e mazelas do nosso País. Motivo? O poder dos blogs está na sua rede de interlocutores. Se nós (mães e pais) deixamos de citar outra mãe, ou não temos interesse em conhecê-las, ficamos perdidas no mar de informações da blogosfera e, assim, deixamos de ser uma rede de mais de 370 blogs com interesses comuns. É responsabilidade nossa citar essas mulheres( e homens), classificá-las nas tags, colocá-las na lista de blogs, ler seus blogs e trocar nossas experiências. Só assim seremos, enfim, uma blogosfera de mães.

Quem não conhece a história da Odele, que relata o acidente da Flávia com objetivo de "protestar contra a lentidão da justiça brasileira e alertar para o perigo dos ralos de piscinas", se surpreenderá com a força dessa mulher. A filha dela tinha apenas 10 anos quando seus cabelos foram sugados pelos ralos da piscina do condomínio, onde a família morava no bairro Moema, em São Paulo. Foi retirada da piscina e levada para a UTI do Hospital Santa Isabel, em coma. E assim permanece já há dez anos. "Flavia segue inconsciente, em coma vigil. Abre os olhos durante o dia e os fecha à noite. Mas não interage com o meio ambiente e é completamente dependente para toda e qualquer atividade da vida. Ao longo dos anos, devido ao tempo em que fica imóvel vem adquirindo deformidades severas que torna o quadro ainda mais doloroso e difícil de cuidar", conta Odele.

Veja algumas respostas da Odele neste bate-papo via email:
1- Quais são os pontos que os pais devem estar atentos antes de deixar o filho mergulhar na piscina?
Odele Souza: Na verdade, não acho que os pais é que tenham que ficar constantemente em estado de atenção. As crianças assim como os adultos vão a uma piscina para se divertir, para se distrair e não teriam que ficar tensos e preocupados com o perigo de um ralo mal instalado na piscina e fora dos padrões de segurança. Essa preocupação deveria ser primeiro do fabricante do ralo da piscina que deveria ter tido a responsabilidade de vender o equipamento ali instalado dentro das dimensões e potência corretos ao tamanho daquela piscina. Segundo, o administrador da piscina, também tem por obrigação vistoriar se o equipamento de sucção está instalado e funcionando corretamente. Infelizmente, pelo número de acidentes que venho documentando no blog de Flavia com ralos de piscinas funcionando de forma irregular, percebe-se que nem o fabricante nem o administrador da piscina vêm tendo esse cuidado. Portanto, eu diria aos pais que não tirem os olhos de seus filhos enquanto eles estiverem dentro de uma piscina.
2-Neste período, muitas famílias estão saindo de férias, indo para piscinas e para clubes. Você tem alguma recomendação?
Odele Souza: Eu gostaria muito que o acidente ocorrido com Flavia fosse capa de uma revista de grande circulação, neste mês de Janeiro, em que completa 10 anos que um ralo de piscina lhe sugou os cabelos e lhe deixou em coma irreversível. Seria um alerta para as pessoas que neste mês de Janeiro, por ser um mês de muito calor no Brasil, freqüentam mais as piscinas.
3-Você tem algo que gostaria de dizer a Justiça, ou as mães deste país, sobre o acidente de Flávia?
Odele Souza: À Justiça, eu diria que justiça lenta é uma justiça injusta. Justiça lenta beneficia os culpados e pune as vítimas. Enquanto isto ocorrer, a negligência beneficiada pela impunidade vai continuar a causar vítimas de acidentes com ralos de piscinas. Às mães eu diria que se tiverem a infelicidade de passar pelo que eu venho passando, por favor, não se calem. Protestem, denunciem, GRITEM. Um dia alguém poderá nos ouvir.
4-Qual foi a sentença final do julgamento? Quanto tempo dura essa ação
Odele Souza: O processo de Flavia está na Justiça paulista há NOVE ANOS. Nesse período aconteceram dois julgamentos. O primeiro cinco anos após iniciado o processo, e foi concedido à Flavia R$ 52 mil reais de indenização. No segundo, mais dois anos após, concederam mais 52 mil. Ou seja, 104 mil reais de indenização para eu cuidar de Flavia pelo resto de sua vida. Recorri das duas sentenças e agora, o processo de Flavia deve seguir para Brasília onde será julgado em última instância.
5-Como o blog ajudou você e a Flávia?
Odele Souza: A melhor ajuda que o blog de Flavia poderia trazer seria o interesse da mídia convencional em divulgar este tipo de acidente, exatamente para alertar as pessoas do perigo de ralos de piscinas mal instalados. Infelizmente até agora isto não aconteceu. Mesmo assim o blog me ajuda, pois me faz bem saber que o caso de minha filha pode alertar outras pessoas para o perigo dos ralos de piscinas e com isto evitar novos acidentes com esses ralos sugadores. O maior acesso ao blog de Flavia aconteceu em 17 de Dezembro de 2007, quando através de uma Blogagem Coletiva, participaram em média 200 blogs e o número de acesso diário chegou a 300. Depois disso a média de acesso, gira em torno de 150 a 200/dia, incluindo blogs do Brasil e do exterior.
6-Você já encontrou casos parecidos com o de Flávia? O blog ajudou esse contato e troca de experiências?
Odele Souza: Sim, venho encontrando muitos casos parecidos com o de Flavia, no Brasil e no mundo, e procuro mostrá-los no blog dela. Já a troca de experiência é difícil porque normalmente as pessoas se fecham e não querem muito contato.
7-Como a imprensa abordou o caso?
Odele Souza: Esta é uma lacuna, uma falha da mídia convencional que normalmente só mostra interesse por uma notícia, no momento em que ela ocorre. Foi assim com Flavia. No momento do acidente, há 10 anos, o prédio onde morávamos em Moema era cercado por jornalistas querendo noticiar o acidente. Saíram reportagens no jornal "O Estado de São Paulo", "Folha de São Paulo" e mais tarde "Jornal da Tarde". A TV Bandeirantes também fez uma reportagem na época. Depois disso, foram atrás de notícias mais recentes. Mais recentemente, em março de 2007, a TV Record fez uma reportagem usando o caso de Flavia para falar da lentidão da Justiça Brasileira e do perigo dos ralos de piscinas. Foi só. Minha opinião é que a mídia teria o dever de fazer um 'follow up' das situações que noticiam, para mostrar à sociedade o que aconteceu em cada situação por ela noticiada. Seria uma prestação de serviço da mídia à sociedade. “
Postado por Ceila Santos às 03:07

Colhi alguns comentários deixados lá no Desabafo de Mãe.
Eliana disse...
Me solidarizo com a Odele nessa sua difícil e penosa caminhada. A Flávia não pode estar passando por isso em vão. Pena que a morosidade da nossa "justiça" imponha regras tão duras para quem já vem sofrendo há tanto tempo. Infelizmente e, como quase tudo nesse país, a negligência é a forma mais prática de apaziguar a consciência rasa dos nossos políticos. Samilo, continue interessado e investigativo. Parabéns pela iniciativa. Eliana - Mogi Guaçu –SP (**)

Fernanda disse...
Através do caso da Flávia eu comecei a ficar de olhos mais abertos e alertar outras mãe para que exijam a manutenção seja no condominio, na escola e ou no clube.Na escola da minha filha exigi isso a coordenadora só deu aquele "tudo bem" que a gente sabe que foi só pra não dizer: "até parece que vou cuidar dessa bobagem"No dia seguinte levei o endereço do blog da Flávia e disse a ela que lesse e que não deixasse isso acontecer novamente com outras crianças. Quando ela leu, me ligou e pediu desculpas por ter ignorado algo que ela nem sabia do que se tratava e da importancia que tem.


(* ) No Blog Desabafo de Mãe, Ceila Santos, Samantha Shiraishi, Manoel Gonçalves, Sueli Sueishi e Lucia Freitas, exploram bastante o universo mães/pais/filhos. É um blog que vale a pena visitar.

(**) Eliana – Mogi Guaçu – SP. Espero que você leia este post. Você tem sido uma leitora assídua do blog de Flavia, tem deixado sempre comentários e leio comentários seus sobre Flavia, em outros blogs. Você tem sido uma presença querida nos meus posts. Nunca pude lhe agradecer pois além de você não ter blog, desconheço seu e-mail. Por favor, me contate. Um beijo.

UM POUCO DE BELEZA, UM POUCO DE LEVEZA.

- 15 de janeiro de 2008
A foto que ilustra este post, uma Borboleta Monarca, está no blog de fotografias de Nuno de Sousa.

Além da atenção de vocês que nos visitam e deixam aqui seus comentários, Flavia tem recebido através deste blog, muitas manifestações de carinho. A ela têm sido dedicadas, músicas que coloco para ela ouvir e poemas que leio ao lado de sua cama, sempre dizendo quem lhes enviou, pois como já escrevi antes, é importante conversar com pessoas em coma. Agradeço a todos vocês por esse carinho com Flavia.

A foto que ilustra este post é de autoria do fotógrafo  português Nuno Sousa. São 3 fotos belíssimas, mostrando o nascimento de uma Borboleta Monarca. Nuno escreveu no blog dele: “Estas fotos são tuas Flavia, como símbolo da beleza e da esperança”. Não há como não se comover diante de tamanho gesto de afeto.

A sequência das 3 fotos dedicadas à Flavia, mostrando o nascimento da Borboleta Monarca, poderá ser vista no blog de fotografias de Nuno de Sousa.

A crônica que agora transcrevo, deixada nos comentários deste blog no post do dia 06 de Janeiro, foi escrita por minha querida amiga, a cronista acreana Leila Jalul. Como sei que nem todos os visitantes lêem comentários, eu transcrevo aqui a crônica de Leila, que me comoveu às lágrimas e nos chegou como aquele longo e esperado abraço.

Nuno está em Portugal, Leila no Acre. Mas através de seus gestos de carinho estão também aqui conosco, nos transmitindo esta esperança tão importante para nos manter em pé e com fé.

A crônica de Leila para Flavia:

SE EU FOSSE...
Um anjo, ainda que por uns momentos, iria visitar Flavinha, sussurraria palavras mágicas, faria cócegas nos seus pés e na barriga, como fazem as mães nos filhos pequeninos, pelo prazer de ouvir as gargalhadas dobradas. Não importaria que depois viessem os soluços, tivesse de fazê-la tomar três goles dágua para que o ugle, ugle parasse de vez. Não temeria sequer colocar-lhe na testa um fio de linha vermelha emboladinha e umedecida com saliva.

Se fosse um anjo, não esse de verdade que ela tem, mas daqueles que a gente conhece das pinturas nas abóbadas das igrejas, pequenininhos, entroncadinhos, passaria dias e noites sorrindo para, diante dos meus malabarismos angelicais, ela esboçasse ainda que um mínimo daquela alegria criança que tinha antes do sono que já se prolonga.

Anjo não sou, mas bem que poderia ser uma fadinha esplendorosa e faiscante, varinha mágica na mão direita, asas de libélula e traje de bailarina. Se fosse uma fadinha sobrevoaria nas dependências do seu quarto e, tal qual um beija-flor, pararia bem próximo ao seus ouvidos , recitaria versos e cantaria canções de encantamento, só para vê-la, preguiçosamente, tentar acordar.

Fada não sou.

E se fosse um palhacinho, ainda com meu coração triste, será que conseguiria? Roupas coloridas, maquiagem forte, exagerada, voz de paspalha, perguntaria e Flávia responderia, na mais velha das velhas tradições do circo:
- Hoje tem marmelada?
- Tem sim, Senhor!
- Hoje tem goiabada?
- Tem sim, Senhor!
- E o palhaço, o que é?
- É ladrão de mulher!
Será?
Sou sem graça, mas daria o melhor do meu espírito parvo para entregá-la e reintegrá-la à vida. Odele, Flávia e o irmão teriam muito o que conversar. Ririam juntos.

Se nada disso adiantasse, continuaria a fazer o que hoje faço. Se só depender de Deus, n’Ele creio. E neste crer reside a minha esperança. O meu desejo é o desejo de todos que conhecem a força e a luta de Odele: que Deus opere o milagre e que a Justiça faça o que há muito deveria ter sido feito.

Leila
Monday, 14 January, 2008

Obrigada Nuno e Leila. Mas como disse Anelize, no primeiro comentário deste post, "de certa forma, todos os amigos que vêm aqui, torcer por vocês, têm um pouco de anjo, um pouco de fada, um pouco de palhaço".

É verdade Anelize, inclusive você, por quem sinto imenso carinho.
Um beijo.

FLAVIA NA CASA DELA, MESMO EM COMA.

- 10 de janeiro de 2008
Ru2x do blog SIDADANIA, (Portugal) um dos favoritos de Flavia, me pediu para escrever sobre como é a rotina de um dia de cuidados com ela, para ele publicar lá no SIDADANIA. Ele entende que por Flavia estar em coma vigil há 10 anos e por ser cuidada em casa, minha experiência em conviver com uma situação tão dolorosa quanto delicada, poderá estar ajudando outras pessoas.

Palavras de Ru2x:

pois essa luta poderá servir de atenuante na revolta que para muitos existe em todas as tarefas a que a SIDA obriga e que nos fazem sentir como seres infelizes. Por pior que seja a nossa dor, há sempre alguém com dores mais profundas que a nossa”
Para ler o texto onde falo de como é a rotina de cuidados com Flavia, click neste link. SIDADANIA.(*)

(*) Ru2x, autor do blog SIDADANIA, é um infectado pelo vírus HIV, que se dedica ao estudo da doença e a ajuda à pessoas recém infectadas. Visite o SIDADANIA. Não só para saber como no dia a dia, eu cuido de Flavia em coma, mas para ler informações importantes sobre SIDA/AIDS que Ru2x nos passa em seu blog. Deixe lá seu comentário. Prestigie esse trabalho, importante para todos nós.

Obs: SIDA = Síndrome da Imunodeficiência adquirida. O termo SIDA é normal em Portugal.

AIDS = mais comum no Brasil.

Um abraço.

Até o próximo post.

Esperança por um amanhã melhor

- 6 de janeiro de 2008
ACORDE...

Flavia, acorde Princesa
O ano 2000 já chegou, e você nem notou,
Ausente que está nesse sono tão longo...
Já faz hoje dois anos...acorde, vem cá...
Sinto falta de ouvir pela casa seus passos,
E me angustia não mais receber seus abraços.
Vem filha, me explicar o que eu não entendo
- POR QUE COM VOCÊ?!
Nessa sua viagem de sonho, você já deve ter
Se encontrado com Deus e com os anjos.
Eles já lhe disseram filha, POR QUE?!
Por favor acorde e me diga, eu preciso entender...
Disseram querida, que sofrendo eu vou aprender
Mas como posso aprender a ficar sem você?!
Como pode Princesa, alguém aprender pela dor?
Até onde sei, o amor é que deveria ensinar...
Eu te amo filha, por favor, use este amor
Para achar seu caminho de volta.
Siga meu amor como uma luz
Para você aprender a voltar
E eu estarei aqui filha, todos os dias
A te esperar, a te esperar, a te esperar...

Odele Souza
06 de Janeiro de 2000.

ESPERANÇA.O texto acima está no post publicado no dia 31.08.2007 neste blog e foi escrito por mim em 06.01.2000 - dois anos após o acidente com o ralo de piscina que deixou Flavia em coma vigil. Quando escrevi este texto eu tinha esperança de ver minha filha recobrar a consciência. Hoje, oito anos depois de ter escrito estas palavras, minha esperança já não é a mesma, se transformou, mudou de rumo, mas ainda assim é esperança. E é o que me mantém.

Dez anos depois de minha filha ter sofrido o acidente causado por um ralo de piscina funcionando de forma irregular, que lhe interrompeu a infância saudável, e lhe deixou incapacitada para o resto da vida, os culpados ainda não foram punidos e a indenização por mim pleiteada ainda não nos foi concedida. Mas ainda assim eu mantenho a esperança por dias melhores.

- Espero que o processo de Flavia neste ano de 2008, depois de nove anos na Justiça paulista, finalmente chegue à Brasília onde será julgado em última instância, e que os juizes de Brasília, ao contrário dos de São Paulo, se dêem ao trabalho de ler o processo de Flavia e que atentem para os laudos periciais e para as outras provas da culpabilidade dos réus, provas estas há tanto tempo apresentadas e anexadas aos autos, e finalmente condenem os culpados por este acidente e concedam à Flavia uma indenização coerente e condizente com a gravidade das seqüelas que lhe foram deixadas, para que Flavia possa ter os cuidados de que precisa para continuar vivendo com um mínimo de qualidade de vida e dignidade.

- Espero que o exemplo de Flavia e o alerta que vem sendo e continuará sendo feito neste blog mostrando e documentando outros acidentes com ralos de piscinas, ocorridos no Brasil e no mundo, sirvam para conscientizar do real perigo desses ralos sugadores, porque foram mal vendidos, mal instalados e nunca fiscalizados. E espero que esse alerta e essa conscientização possam evitar novas tragédias.

A esperança deve ser para nós, um exercício diário. Mas não uma esperança passiva, conformada, resignada e silenciosa. Isto tornaria nossa esperança mais frágil, menor e talvez inútil. É preciso arrancar a esperança de dentro de nós, torná-la menos solitária, circular com ela pelo mundo afora, contagiar pessoas e regressar mais fortes, porque nossa esperança terá então se tornado coletiva. E será essa esperança, minha, sua, nossa, que nos dará forças para prosseguir. Será essa esperança o nosso vínculo com um amanhã melhor.

Até o próximo post.
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